STONER ROCK ITALIANO, PARTE 3: DESERT HYPE, ATOMIC MOLD E LUNAR SWAMP


Depois do estouro do Maneskin ao redor do mundo (a banda rola sem parar até mesmo em estações de rádio com verdadeira ojeriza a distorção, e fez impecável figura na última edição de certo festival ocorrido há pouco no Rio de Janeiro), recrudesceu-se o interesse em relação ao rock básico feito na Itália – porém, não apenas esse belo conjunto Glam é outro entre uma infinidade de bons nomes dedicados ao estilo no país, como a esmagadora maioria, para deleite de quem curte uma garimpagem, permanece escondida nos subterrâneos, lançados por pequenas gravadoras e (ainda) imunes às macabras pressões do estrelato. Essa coluna está aqui também pra isso: apresentar alguns nomes além do convencional, coisa que jamais passará no Multishow ou tocar na FM comercial (embora, repito, o Maneskin seja sim digno de apreciação). Vamos a mais três.

DESERT HYPE



Esse trio vem de Cagliari, capital da ilha da Sardenha, cidade cuja existência remonta à pré-história e que guarda em si tesouros arquitetônicos medievais dos mais importantes da Europa. Um par de mini-álbuns independentes (as duas partes de “Sgattagheis”, de 2013), e dois full lenghts de fato (sweP, lançado pela Electric Valley Records em 2015, e “Samufire”, de 2018, editado através da Blacktooth Music), apresentam o Desert Hype em uma linha que os liga de imediato a um Queens Of The Stone Age, mas com gama de interesses ligeiramente ampla, que apode abranger tanto o som alternativo quanto o Noise Rock mais furioso. Arranjam canções de modo a serem viáveis também a públicos mais amplos, capricham no veneno das guitarras e ainda conseguem experimentar em ritmos/estruturas – confira abaixo, em “The More I Know” e “Flying Shit”, o calibradíssimo poder de fogo dos caras.



ATOMIC MOLD



Mais um trio, esse direto de Verona – a “cidade dos namorados”, terra de Romeu e Julieta, patrimônio da humanidade tombado pela UNESCO. Neste cenário predominantemente lírico gestou-se o Atomic Mold, dedicado a um tipo de som com boa repercussão em terras italianas: o Stoner instrumental. Seus dois registros, o auto-intitulado de 2015, lançado pelo próprio grupo, e “Hybryd Slow Flood”, que a Electric Valley editou em 2018, mostram que é necessário entender uma coisa para que esse gênero musical flua com a eficácia que dele se espera: os riffs precisam falar – e aqui eles surgem prolixos, hiperativos feito seu sobrinho de 4 anos, fazendo mesmo as esparsas palavras cantadas pelo baixista Antonio Bonizatto esvanecerem, desimportantes. Eletrifique-se em seguida com o melhor material gravado pelos manos: os três temas do split com o alemão Mount Hush, de 2015.

As três faixas do split com o Mount Hush:


LUNAR SWAMP



Trio formado na comuna de Catanzaro, capital da Calábria, conhecida como “a cidade das três colinas” e fundada no século VIII – localidade, portanto, importantíssima do ponto de vista histórico e cultural, mesmo que não dos mais recorrentes destinos turísticos italianos. A ideia do grupo me parece luminar: utilizar a carreira-solo de Glenn Danzig como referência (o timbre do norte-americano é mimetizado à perfeição pelo cantor Marco Veraldi, aqui atendendo por “Mark Wolf”), hiperbolizar a influência de blues que em maior ou menor grau sempre estivera presente nos discos do ex-Misfits, e a tudo isso adicionar um andamento stoner/doom lamacento, à moda de um Sleep fase Jerusalem. O resultado, tanto no EP “UnderMoodBlues”, de 2020, quanto no álbum “Moonshine Blues”, do ano passado, é primoroso – soturno, denso, feito com conhecimento de causa e sentimento à flor da pele.

Confira “Moonshine Blues” na íntegra:

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