O NOVO ROCK SUECO, PARTE 09: BEAT CITY TUBEWORKS, DICTATOR SHIP E NESTOR  


Falamos aqui de “Novo Rock Sueco”; nessa, na verdade, tentamos abranger nomes poucos conhecidos/difundidos, independente do tempo de estrada. Mas nossa situação se complica (favoravelmente, diga-se de passagem) por conta de dois fatores: primeiro, a quantidade de bandas que aparecem nesse simpático país escandinavo é impossivel de ser acompanhada – você vai procurar por um grupo que jamais havia ouvido falar e sai dali com uma lista de 15 ou 20 pra conhecer, se não mais; segundo, a qualidade de, digamos, 98,9% de todos eles é via de regra fora de série, o que faz das audições experiências absolutamente deleitosas, mas torna as triagens bastante complicadas. Vamos com mais três, estas ligadas entre si, mesmo que em diferentes abordagens, pelo Hard Rock – e, se o autor destas mal traçadas não ficar maluco ao tentar acompanhar/organizar esse tsunami de informação sonora, em breve teremos (bem) mais.


BEAT CITY TUBEWORKS


Vindo da bela Jönköping, esse quarteto investe em um Rock Melódico com orientação voltada ao Power Pop, de tempero levemente “Thinlizzeano” (como já dito em anteriores atualizações dessa coluna, uma verdadeira fixação das novas gerações suecas), mas com outro ingrediente predominante: o Kiss da fase pré-Alive ll. Uma comparação talvez inconsequente para você entender: soa como se o Big Star chamasse o Dave Davies dos Kinks para as guitarras, e convocasse o Paul Stanley dos anos 70 pra criar os arranjos de voz. O independente “I Just Can’t Believe It’s The Incredible…”, de 2014, e “Top Rock”, de 2020, editado pela The Sign Records, são os dois registros dos caras até aqui, e os mostram afiados na confecção de temas energéticos, curtos e pegajosos, que trabalham sem choques entre a emotividade e o divertimento. A maravilhosa “Succubus” é a epítome conceitual do grupo.



DICTATOR SHIP



Quarteto natural de Örebro, que investe em um tipo de som sem chabu quando bem feito: Rock Garageiro com cheiro de tabaco e cerveja fuleira, de riffs abundantes mas atento à melodia, que combina a selvageria de um The Troggs à moderna acessibilidade radiofônica de um Strokes ou um Jet, e a isso adiciona pitadas de Hard Setentista mais visceral, a la Whitesnake/Aerosmith (notadas em especial nas apuradas harmonias das vozes dobradas). A Maximum Rock’N’Roll classifica o conteúdo de “Your Favorites”, álbum filho único dos caras lançado em 2020 pela The Sign, de “clichê” e “auto-indulgente”, além de sentar o porrete no trocadilho bobinho que batiza o conjunto – aí eu pergunto: pra que ser ranzinza assim com uma obra que consegue tão satisfatoriamente equilibrar Iggy Pop e David Coverdale? Divirta-se a seguir com o disco completo.



NESTOR



Natural de Falköping, capital da comuna homônima com cerca de 17 mil habitantes, o Nestor diz ter sido criado ainda nos anos 80 por amigos de escola, porém sua estreia oficial é na verdade de 2021: “Kids In a Ghost Town”, em parceria com a austríaca Napalm Records. Tudo aqui remete à estética oitentista, e busca abertamente a sonoridade AOR radiofônica que marcou em brasa aquela década – a adesão ao trabalho do grupo, então, passa por aí: ou encara-se como pastiche sarrista somente, ou entende-se que usam códigos específicos de um período para produzir material original de alta qualidade (sem deixar o humor de lado).

Permitam dizer que ofenderei pesado quem considerar faixas como “Signed in Blood” ou a balada “Tomorrow” algo menos do que geniais – e os videoclipes, todos em CinemaScope, obras-primas incríveis, referenciais do início ao fim. Fãs de Journey e Survivor, deliciem-se.


Deixe um comentário