A CENA DA QUARENTENA NO REINO UNIDO

Foto: What is Britain without the pub?

Iniciativas de apoio à cena underground no Reino Unido

Barreiras nas portas e janelas. Agendas de shows vazias. O cancelamento por tempo indeterminado de eventos culturais e de música ao vivo, causados pela epidemia do novo coronavírus, resultou na mobilização de artistas, bandas e comunidades para salvar a cena underground no Reino Unido. A capacidade de adaptação e o apoio dos fãs, têm sido fatores cruciais na sobrevivência da música independente e dos espaços de cultura alternativa em terras britânicas.

Com fundos de ajuda oferecidos pelo governo inglês precários ou insuficientes, mais de 400 espaços dedicados à cena underground no Reino Unido correm o risco de fechar suas portas indefinidamente. Diante da crise, músicos e organizações do setor, juntamente com o público, lançaram uma campanha nacional para proteger os espaços conhecidos como grassroots, que no termo local significa popular e alternativo.

A iniciativa, que ganhou o nome #SaveOurVenues, recebeu mais de um milhão de libras em doações (cerca de 7 milhões de reais) arrecadadas em sua página no crowdfunder e através de gigs virtuais com os artistas participantes.

O despretensioso Windmill Brixton é um dos beneficiários dessa campanha. Considerado uma instituição na cena underground e de música independente, o Windmill – que merece um artigo inteiramente dedicado a sua trajetória, confira a minha próxima contribuição – conta com arrecadações em sua página no crowdfunder e a venda de merchandise no bandcamp para conter os prejuízos em permanecer fechado há mais de três meses.

Foto: London In Estereo

Antes da epidemia, o espaço se orgulhava em manter uma programação ativa de 6 a 7 noites por semana, divulgando o trabalho de artistas e bandas locais. Além de ser famoso por revelar novos talentos na cena da música independente, o Windmill é parada obrigatória de bandas underground em turnê por Londres.

Além das campanhas de financiamento coletivo, os canais de livestream e aplicativos, como o Twich, se consolidaram por aqui como plataformas de apoio e divulgação de música e eventos fora do circuito comercial.

Considerado o clube mais DIY de Londres, o The Cause promove a música eletrônica independente e também dedica parte da sua renda a projetos de apoio à saúde mental.  Durante o período de confinamento, o espaço leva seus eventos ao canal de livestream Threads Radio. A transmissão é gratuita, mas o público pode contribuir com doações aos djs e entidades apoiadas pelo clube.

Outra iniciativa que merece destaque, é o Quarantunes. Disponível no Youtube, o canal  foca em performances acústicas e de estilo que variam do folk, indie à eletrônica. Até a publicação desse texto, estão disponíveis 10 programas semanais.

As gravações são feitas em livestream diretamente de estúdios improvisados. Inicialmente o Quarantunes arrecadava recursos aos artistas participantes, mas atualmente, as doações do canal são destinadas à ONG Solace Women’s Aid, que oferece apoio a mulheres e crianças de Londres vítimas da violência doméstica, que infelizmente se exacerbou durante o período de confinamento.

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Essa foi a minha primeira contribuição para o Monophono Brasil, a convite do meu amigo e ex-companheiro de banda Vinicius Paes. Aqui vou compartilhar o que não é considerado mainstream em Londres, o lado obscuro da metrópole, e tudo aquilo que você não encontra nos guias de turismo convencionais. Bem vindos ao lado B da Babilônia. Esse pedaço de chão multicultural e caótico que adotei como casa desde 2006. Além daqui, me encontre também no Instagram: picturesforsongs.


Um comentário em “A CENA DA QUARENTENA NO REINO UNIDO

  1. Mari! Sensacional! As considerações e a menção a bandas que normalmente não fazem parte do mesmismo de guias habituais turísticos ou não! Essa pandemia há de sair de cena…. mas a visita a este espetáculo underground está registrado! Será visit obrigatória na nossa próxima ida a Londres!!! Bjs e parabéns pela reportagem. Tia Mi

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